quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

'Azul é a cor mais quente' está além da polêmica da cena de sexo entre Adèle e Emma



Vencedor da Palma de Ouro em Cannes (2013), Azul é a cor mais quente de Abdellatif Kechiche é o filme mais ousado e inquietante do ano.

Se na paleta de cores o azul é associado à frieza e monotonia, em Azul é a cor mais quente ele viola essas simbologias e se impõe como uma cor sensual. Do início ao fim ele está presente, seja nas paredes do quarto de Adèle (Adèle Exarchopoulos), nos cabelos de Emma (Léa Seydoux), estampado em camisetas, unhas ou na imensidão do mar, no qual Adèle deposita seus anseios. O azul, uma das três cores-luz primárias,  também está presente como representação de imaturidade - uma fase de novos conhecimentos e descobertas - assim acompanhamos durante as 2h57min de exibição o reconhecimento de Adèle sobre si mesma.

Durante a transição da adolescência para a maior idade, envolvida com o jovem Thomas (Jérémie Laheurte) e imersa em inquietações e dúvidas, Adèle se sente atraída por uma jovem que cruza seu caminho, e então começa uma busca quase inconsciente pela enigmática Emma. Em meio ao romance tórrido entre elas, existem suas personalidades: Adèle com suas poucas ambições e Emma, uma jovem pintora, intelectualizada e madura. Neste cenário amor e interesses intelectuais divergem. 

Exarchopoulos é sem dúvidas um dos maiores destaques do ano, a novata aparenta buscar de dentro de si uma força para dar vida a Adèle, dando um tom natural ao personagem. Outro ponto forte do longa é a "gramática cinematográfica", como descreveu o próprio Kechiche, que através de closes em lábios, pele, no rosto de Adèle e de outros personagens construiu um cenário perturbador. 

Embora a temática do filme seja homossexual a ideia é atingir o 'ser', independente do gênero, objetivo alcançado com bastante sucesso, diga-se de passagem. É quase impossível sair da sala de cinema sem trazer um pouco de Adèle consigo e não compartilhar 1/3 de sua inquietação. 

Infelizmente, Azul é a cor mais quente tem gerado polêmicas e debates pela cena de sexo entre Adèle e Emma, que dura seis minutos, o que reafirma a miudeza do ser humano. O quinto longa de Kechiche é muito mais que isso. 

Nota: 10. 


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Salve Geral: um dia das mães inesquecível


Diferente de Tropa de Elite, que aborda friamente a polícia e o tráfico do Rio de Janeiro sem dar espaço para uma visão mais humanizada, Salve Geral traz os dois lados da moeda em um longa de 1h59min.

Lançado em 2009, o filme de Sergio Rezende documenta o Dia das Mães de 2006, na capital paulista, quando bancos, postos policiais, caixas automáticos e outros estabelecimentos foram atacados, gerando caos na cidade. Naquela ocasião a polícia sofria uma retaliação pela transferência de líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) para o interior do estado. Gravada na história de São Paulo como dias de terror, a desordem estendeu-se até a segunda-feira, fechando as portas dos comércios e marcando um trânsito recorde no meio da tarde.

Essa situação é vista pelos olhos de Lúcia (Andréa Beltrão), uma professora de piano que entra em dificuldades financeiras quando seu marido morre, e é obrigada a se adequar a sua nova condição social. Seu filho, Rafael (Lee Thalor), um jovem apaixonado por corridas de carro, inconformado com o novo quadro da família, se envolve em um acidente que resulta em mortes e é preso em flagrante. A partir da prisão de Rafael o espectador convive com a realidade dentro dos presídios de São Paulo, onde os detentos vivem em celas pequenas que mal comportam a capacidade de presos, sem segurança ou higiene. Dentro deste mesmo cenário estão a convivência entre os presos e as guerras internas entre os "comandos". Para sobreviver o jovem precisa andar na corda bamba que separa a justiça e as leis dos detentos.

Enquanto isso, Lúcia, no desespero de tirar seu filho da cadeia, conhece Ruiva (Denise Weinberg), advogada do líder do partido, Professor (Bruno Perillo). Precisando de dinheiro para manter-se e ajudar Rafael, Lúcia começa a realizar trabalhos para o PCC e se envolve com o Professor.

Com um roteiro morno, que se pauta nas vias dramáticas da história e quase sem cenas de ação, o longa não dá espaço para muitos picos de tensão.

Após as quase duas horas de filme, a impressão que fica é que a história ficou mal costurada e que a intensão desde o início era apenas mostrar o ficcional, afinal a realidade do enredo não tem uma finalização. O encerramento do fatídico Dia das Mães de 2006 é esquecido e engolido pela conclusão da história entre mãe e filho.


Nota: 7